Pais Ansiosos – Crianças Ansiosas

O amor dos pais pelos filhos é indescritível, e mesmo assim, nem sempre conseguimos perceber o impacto negativo que a nossa própria ansiedade e estresse podem ter em nossos filhos.
ketan-rajput-345427-unsplash

Como não deixar nossa ansiedade afetar nossos filhos.

Existe um ditado que diz: “Mães ansiosas criam filhos ansiosos”. Substitua “mães” por “pais e mães” e você verá que o ditado continua fazendo sentido. Na verdade, se olharmos as estatísticas sobre saúde mental no mundo, veremos que esse ditado é mais verdadeiro que nunca. Em 2017, o Instituto Nacional de Saúde Mental anunciou que entre os adolescentes, 38% das meninas e 26% dos meninos lidam com problemas de ansiedade. Hoje, 1 em 4 crianças lidam com preocupações e ansiedades a ponto de terem ataques de pânico e problemas emocionais. Mas porque isso está acontecendo? Por que os níveis de ansiedade entre as crianças estão tão altos e o que podemos fazer para mudar isso?

Ansiedade Transmitida

Muitas pessoas acreditam que a ansiedade é herdada da família. Isso está correto, em parte. A ansiedade pode ser um traço corrente na família, mas não por ser hereditária, apesar de algumas pessoas serem mais ansiosas que outras. A ansiedade pode estar na família porque é um comportamento aprendido, que pais ou cuidadores, sem querer, podem passam para as crianças.

Psicólogos concordam que a melhor maneira de entender os níveis de estresse e ansiedade da criança é olhar para os níveis de ansiedade e estresse dos adultos em suas vidas. Em outras palavras, se a criança sente que seus pais estão sempre estressados ou ansiosos – e eles saberão mesmo que você tente esconder – ela crescerá cada vez mais estressada e ansiosa.

menina e o pai dela

Como transmitimos nossa ansiedade a nossas crianças

Você pode tentar imaginar como as crianças conseguem perceber essas emoções, mesmo quando você tenta escondê-las. Apesar de nem todos os indicativos serem através de emoções, em muitos casos, nós demonstramos nossos níveis de estresse na maneira pela qual interagimos com o outro. Uma forma clássica de transmitir ansiedade para a criança é tentando controlar as coisas. Quando estamos ansiosos, tentamos controlar tudo o que está acontecendo à nossa volta, para tentar aliviar um pouco o que estamos sentindo. Vamos imaginar que estamos esperando uma avaliação ou promoção no trabalho. Nessas situações não podemos fazer nada para controlar o que vai acontecer. Tudo o que podemos fazer é esperar.

Então nós controlamos o que podemos. Imagine que seu filho está brincando no parquinho com outra criança e eles começam a discutir. Ao invés de deixá-lo resolver a situação, imediatamente vamos lá para “defender” nosso filho. Quando vemos, a mãe da outra criança está lá também e a coisa toda tomou uma proporção maior do que deveria. E mais, tiramos o controle das mãos de nossos filhos e negamos a eles a chance de desenvolver maneiras para lidar com conflitos e construir amizades. Quando interferimos, estamos basicamente dizendo “Você não consegue lidar com isso sozinho”. E repetimos essa mensagem todas as vezes que interferimos. Quando interferimos, não só criamos problemas de  autoconfiança em nossos filhos, mas também sentimentos de inadequação.

5 maneiras de não deixar sua ansiedade afetar seu filho.

Nenhum pai ou mãe quer machucar seu filho, mesmo que sem intenção. É normal que nós, enquanto pais, nos sintamos ansiosos e estressados e não é realista achar que nossos filhos nunca nos verão dessa forma. Mas existem formas de evitar que nossa ansiedade afete nossos filhos, bem como nossa relação com eles: aprendendo a gerenciar e reduzir nossa ansiedade. Aqui vão 5 dicas para você refletir e ficar mais atento no dia a dia e quando está perto de seus filhos.

Ter uma rede de apoio e saber quando usá-la: Costuma-se dizer: “Eles são tão pequenos, ainda não entendem o que está acontecendo”, mas não é verdade. Crianças conseguem sintonizar o ambiente e perceber nossas preocupações e ansiedades. Então, é importante tentar não descarregar todas as nossas preocupações e frustrações quando nossos filhos estão por perto. Isso não quer dizer, no entanto, que deveríamos sufocar nossos medos e preocupações. Ao invés disso, deveríamos ter uma rede de apoio para conversar. O sistema de apoio pode ser nosso parceiro, nossos amigos ou mesmo um terapeuta… Falando de nossos sentimentos com as pessoas que confiamos, conseguimos desabafar enquanto aprendemos a entender e lidar com nossos sentimentos de uma maneira melhor, sem preocupar nossos filhos.

Explicar e introduzir gatilhos saudáveis. Digamos que há dois anos um cachorro te mordeu. Por causa disso, você tem medo de cachorros, tanto que você precisa atravessar a rua sempre que vê um cachorro se aproximando. Uma coisa importante a entender nessas situações é que precisamos explicar para nossos filhos o motivo de reagirmos dessa maneira. Quando você explica a razão por trás do seu medo, e que “nem todos os cachorros são ruins”, seu filho não vai pensar “todos os cachorros são perigosos”. Uma boa maneira de solidificar isso é contar com a ajuda do seu parceiro. Peça para ele levar seus filhos para interagir com cachorros em um abrigo por exemplo, ou levá-los na casa de amigos que tenham cachorros. Dessa forma você expõe seus filhos a gatilhos saudáveis e previne que eles herdem seus medos ou ansiedades.

Entenda seus gatilhos. Por falar em gatilhos, se você quiser aprender a lidar com sua ansiedade e reduzi-la, é importante entender seus gatilhos. Tente observar na próxima vez que você ficar ansioso. Reflita sobre o que você estava fazendo ou sentindo momentos antes. Anote o que acontece e tente explorar o que aconteceu antes de ficar ansioso. O que você sentiu exatamente? O que você estava fazendo antes de começar a se sentir assim? Somente quando conseguimos identificar nossos gatilho e seus padrões é que conseguimos mudar a maneira como respondemos a eles.

Estimule riscos saudáveis. Digamos que você está no playground e tem medo de altura. Seu filho está subindo nos brinquedos e isso faz você se sentir ansioso. Tanto que você quer que ele pare ou quer lhe dar um limite do quão alto ele pode subir. Quando você começa a se sentir dessa forma, respire fundo e pare por um momento. Lembre-se que crianças aprendem fazendo e não deixá-los descobrir o mundo não ajuda. Se você tem dificuldade com isso, tente ir para o parque com outra mãe ou pai. Converse com eles sobre sua ansiedade, peça que eles a ajudem a não interferir, que a levem para dar uma volta no parque e lhe assegurar que tudo vai ficar bem.

Ensine técnicas para que as crianças aprendam a lidar com as coisas. As crianças aprendem observando os pais. Então, que jeito melhor de ensiná-las e ajudar a si mesmo que desenvolver técnicas para lidar com as dificuldades? Ao adotar técnicas para lidar com a ansiedade, você não a transmite para seus filhos. Pelo contrário, você os ensina a lidar com esse sentimento. Se você quiser ir um pouco mais adiante, pode ativamente ensinar essas técnicas a eles. Não só isso será importante para eles no futuro, como também é uma forma de estreitar seus laços. Ou, inspire lentamente, e tente conte suas respirações até dez. Você pode tentar aplicativos de meditação mindful sempre que se sentir ansioso. Caminhe por 30 minutos junto com seu filho. Mantenha um diário e encoraje seu filho a fazer o mesmo.

Inicie o seu teste gratuito meditopia

Seja paciente e gentil consigo mesmo e com outros pais e mães.

Por fim, mas talvez o mais importante – por favor, seja gentil e paciente consigo mesmo. Ninguém recebe um manual sobre como ser pai e mãe e lidar com todas as situações que aparecem. Criar filhos é uma tarefa super complicada e não é realista imaginar que sempre faremos tudo perfeitamente. Mas tente não esquecer que a questão não é evitar cometer erros, mas corrigi-lo adequadamente. Você está fazendo o seu melhor, com as habilidade e ferramentas emocionais que têm, assim como os outros pais e outras mães. É perda de tempo julgar a si mesmo e aos outros, nada de bom pode surgir de sentir vergonha. Se continuarmos a conversar com outros pais, mães e cuidadores, podemos apoiar uns aos outros e aprender como ter relações mais amorosas e saudáveis com nossos filhos.

Como sempre, queremos saber o que você pensa, suas questões e perspectivas sobre esse assunto. Se você é pai, mãe ou cuidador, essas sugestões fizeram sentido? Este artigo a fez refletir sobre a sua infância, ou você lembrou de algo? Como nós, enquanto pais e mães da futura geração, podemos ser melhores para que nossas crianças floresçam e tenham sucesso?

Traduzido por: Flavia Totoli

Leave a Reply