Lembro-me de quando recebi meu primeiro salário depois que me formei na faculdade. Eu estava animada, feliz e voltei para casa me sentindo o máximo. Mas depois dos primeiros meses pagando aluguel, serviços básicos e outras coisas, ficou dolorosamente claro que eu teria que ter muito cuidado ao gastar o meu dinheiro. Foi então que comecei a pensar nisso.
Quando comecei a ter que escolher para economizar um Real aqui e outro ali, tive que encarar o fato de que muitos dos meus colegas pareciam não estar na mesma situação. Enquanto algumas das minhas amigas viajavam para a praia nos feriados, frequentavam semanalmente o cabelereiro e saiam quase diariamente depois do trabalho, eu me dava por satisfeita em ir ao shopping uma vez por mês. Agora, eu poderia seguir com este artigo em várias direções, desde como manter-se no seu orçamento até a probabilidade de que muitos dos meus colegas estavam acumulando dívidas nos seus cartões de crédito ou recebendo apoio financeiro de suas famílias. Mas, neste artigo, meu propósito é falar sobre esse sentimento desmoralizante que muitos de nós sentimos quando começamos a comparar nosso valor com o valor de nosso salário.
Durante esse período, eu me pegava constantemente pensando “Acho que eu não sou inteligente o suficiente”, “Eu não sou assertiva o suficiente” ou “Eu acho que o valor do meu trabalho para a empresa não é muito alto”. Afinal, em comparação com meus amigos, eu estava me esforçando demais para não fechar o mês no vermelho. Claro que lá no fundo eu sabia que alguns dos meus amigos estavam recebendo dinheiro dos pais, e outros tinham uma poupança com a qual podiam contar, mas nada disso parecia importar na hora de sair para jantar e ser a única que não podia pagar por mais de um aperitivo.
Talvez muitos de vocês também se sintam diminuídos e com vergonha da quantidade de dinheiro ganham, porque é muito fácil associar um número ao nosso valor como seres humanos. Fazemos isso com a maioria dos objetos, serviços e experiências, então por que não fazer conosco? Nós admiramos celebridades e influenciadores que ganham muito dinheiro e os elogiamos como se fossem seres humanos excepcionais.
Então vem a pergunta…
Sejamos francos, temos um sentimento de orgulho, autoconfiança e poder quando compramos bens ou experiências de luxo. Em geral, é por que acreditamos que poder comprar essas coisas demonstra para nós mesmos e para os outros que somos: dignos, merecedores, poderosos ou inteligentes. Afinal, de que outra forma poderíamos bancar essas coisas?
Pare por um momento e pense no que vem à sua mente quando você encontra alguém que mora em uma casa grande, tira férias exóticas no exterior ou parece ter muito dinheiro. Mesmo que alguns de nós despreze esse estilo de vida supérfluo, a maioria acredita que essa pessoa deve ser muito competente ou talentosa para conseguir ganhar tanto dinheiro, mesmo que esse talento seja para a vigarice.
E pode ser que seja justamente esse o caso. Também é um pouco irrealista tentar não sentir aquela centelha de alegria quando conseguimos comprar por um bem de luxo ou, finalmente, obter o aumento de salário que tanto queríamos.
No entanto, o que eu sempre senti e quero considerar neste artigo é o nosso valor como seres humanos, independente de nossos salários, lucros e patrimônio.
Por mais direta e grosseira que pareça, a verdadeira pergunta é …
Provavelmente, muitos de vocês responderam com um retumbante “claro que não”. No entanto, por mais que saibamos disso em nossos corações e mentes, lembre quanta ansiedade, vergonha e culpa você sente de vez em quando por causa de sua situação financeira. Um pai que não pode se dar ao luxo de comprar uma bicicleta para o filho, achar que uma pessoa é inalcançável só porque vem de família rica ou perceber que você não pode se dar ao luxo de participar da festa de despedida de seu amigo. Todos nós podemos nos identificar com essa mistura de sentimentos, e nesses casos, ficamos propensos a nos criticar por não sermos inteligentes ou competentes o suficiente para oferecer mais àqueles que amamos.
É importante, nesses momentos, tomar consciência do que você está indiretamente dizendo a si mesmo quando se trata de seu valor como pessoa. Há alguns instantes você reconheceu que o número no seu contracheque não equivale ao seu valor como ser humano, então deixe que essa consciência conduza o seu diálogo mental.
Outro aspecto importante a considerar, no que diz respeito à nossa percepção de valor próprio, é a facilidade com que associamos o que acontece ao nosso redor com nosso valor e capacidade. Muitos aspectos do ambiente onde estamos inseridos estão completamente fora do nosso controle, e ainda assim é fácil deixar que essas variáveis sirvam como atestados de nosso sucesso, fracasso, sorte ou desempenho. O país em que nascemos, a empresa que teve que nos demitir, o bairro em que vivemos ou quanto dinheiro nossos pais têm. Muitas dessas condições estão além do nosso controle e, no entanto, permitimos que elas ditem nossa percepção de nós mesmos e dos outros.
Mais do que isso, em nossas próprias vidas, muitas vezes permitimos que nossas boas e más experiências definam nosso valor. Mas pense bem, a vida é cheia de altos e baixos; e durante todas essas experiências positivas e negativas, a única constante é o nosso próprio ser, cujo valor nunca muda. Às vezes, você pode ter um ótimo dia no trabalho e se sentir no topo do mundo, e no dia seguinte você pode ter más notícias e se sentir desapontado e diminuído. Se conseguir nos distanciar um pouco e ver que essas situações externas, na verdade, não têm nenhum impacto sobre o nosso ser e nosso valor, aprenderemos tudo o que acontece à nossa volta com menos seriedade e resistência.
Dinheiro, sucesso, elogios, bens… tudo vem e vai. Tudo isso é temporário, mas o seu ser é permanente. Nenhuma dessas variáveis pode mudar o seu ser sem a sua permissão. Muitas vezes, em meditação, temos a sensação de ser como o céu. Porque, assim como o céu, somos um vasto campo de energia em que todo tipo de clima e nuvem vem e vai; Todas as tempestades, nuvens e trovões vêm e vão, enquanto nós permanecemos do jeito que sempre fomos.
Independentemente de seu salário, cargo ou potencial, pense se essas coisas afetam o amor que seu animal de estimação, filhos ou entes queridos sentem por você.
Isso nos leva a última uma última pergunta.
Essa foi a pergunta que eu tive de me fazer aos 23 anos, quando descobri que estava me criticando continuamente por não conseguir bancar coisas que eu achava que já deveria conseguir bancar. No começo, minha mente ficou em branco. É difícil listar tudo o que você tem a oferecer e que não requer dinheiro. Mas com o tempo, descobri que esse é um exercício muito útil para dissolver os pensamentos e sentimentos autocríticos, e vergonha e frustração relacionadas a dinheiro.
Nos últimos anos, usei a meditação como uma forma de observar as histórias que conto sobre mim mesma e, de vez em quando, percebo um ou outro pensamento autocrítico relacionado a dinheiro. Mas com a ajuda da pergunta acima mencionada, bem como meditações de compaixão e gratidão, sinto-me muito mais segura no que diz respeito ao valor que tenho a oferecer, e que não tem nada a ver com quanto dinheiro eu ganho.
Além disso, descobri que nutrir minha autoestima teve um impacto positivo em minhas finanças. Em um artigo posterior, vamos falar sobre como superar a autocrítica nos leva a oportunidades incríveis e à vida que todos nós merecemos.
E, como sempre, adoraria ouvir suas experiências sobre como lidar com vergonha ligada a dinheiro e como separar o valor do seu patrimônio do seu valor como pessoa.
Tradutor: Rosa Frazsao