Traduzido por: Flavia Tottoli
A escritora norte-americana Helen Keller certa vez disse: “Prefiro andar com uma amiga no escuro do que sozinha no claro”. Essa frase reflete um sentimento que muitos de nós compartilhamos. Nós, humanos, somos criaturas sociais, ansiamos por conexões profundas e significativas. No entanto, às vezes nos sentimos incapazes de formar vínculos profundos o suficiente para serem chamados de amizade. Acabamos mantendo conversas muito superficiais, e às vezes não sentimos que somos uma parte importante da vida dos nossos amigos – ou que eles são da nossa. Às vezes, simplesmente não conseguimos nos conectar com as pessoas. Então como superar isso? Como formar e cultivar vínculos de amizade que durem a vida toda?
Os cientistas até agora não conseguiram chegar a uma conclusão sobre o motivo dos seres humanos precisarem de amigos. Eles só sabem que precisamos. Ao longo dos anos, inúmeros estudos concluíram que ter amigos de verdade é muito benéfico para o nosso bem-estar mental e emocional. Um estudo recente de Harvard revelou que ter amigos próximos ajuda a manter a saúde do cérebro quando envelhecemos. No passado, ficou provado que a amizade aumenta a expectativa de vida e reduz vários riscos à saúde, como no caso das doenças cardíacas.
A razão pela qual ter amigos é tão importante é que eles são como pilares em nossas vidas. Amigos nos dão apoio quando mais precisamos. Um divórcio, uma perda, uma demoção no trabalho… Não importa o que esteja nos acontecendo, eles estarão sempre ao nosso lado. Não sabemos por que manifestamos esse tipo de comportamento com nossos amigos, só sabemos que manifestamos e que isso é muito bom.
O escritor inglês C.S.Lewis certa vez descreveu o momento exato em que surge uma amizade: “A amizade nasce no momento em que uma pessoa diz à outra: O que? Você também? Achei que fosse só eu”. Ele não poderia estar mais correto. Todos os relacionamentos precisam começar em algum ponto, as pessoas precisam ter algo em comum, por assim dizer. Ter alguma coisa em comum é ótimo para formar um vínculo. Mas se não aproveitarmos esse ponto comum, se não o usarmos, nunca conseguiremos transformar um conhecido em um amigo. Então o que precisamos fazer para transformar esse ponto crucial em uma amizade? Como transformar um estranho com quem temos algo em comum em um amigo? E o mais importante: como nos tornarmos amigos de verdade?
Relacionamentos são complexos, e não existe manual, pois cada indivíduo e cada relacionamento é diferente. Entretanto, existem vários fatores que podem influenciar uma amizade. Quando refletimos sobre eles, conseguimos compreender melhor a amizade, os amigos e nós mesmos. E finalmente chegar a uma conclusão sobre o que significa para nós a conexão humana.
Encontrar algo em comum com o outro não é apenas uma boa maneira de iniciar uma amizade, também é um passo para aprendermos mais sobre a outra pessoa, enquanto também revelamos mais sobre nós mesmos. É normal procurarmos semelhanças entre nós e o outro. Pode ser qualquer coisa: o estilo de vida, os valores, a idade, o status socioeconômico, os hobbies, as experiências… Descobrir essas semelhanças nos ajuda a entender melhor o outro. Sentimos que já o conhecemos, e então surge um impulso de querer conhecer melhor. Descobrir e expandir as semelhanças nos deixa mais abertos às diferenças. Isso nos dá mais motivos para conhecer e entender cada vez melhor os nossos amigos. Quanto mais abertos estivermos a isso, mais profundo será nosso entendimento. E quanto mais profundo for o nosso entendimento, melhores amigos seremos.
A base de qualquer relacionamento saudável é a confiança. Mas isso não surge do dia para a noite. Todos nós sabemos que confiança leva tempo. E uma das melhores formas de desenvolvermos um relacionamento de confiança não é apenas mostrando consistentemente como nos comportamos, como tomamos decisões e como tratamos os outros, mas expondo nossa vulnerabilidade. Se quisermos relações de confiança, teremos que estar dispostos a nos abrir para as pessoas, a compartilhar com elas coisas pessoais, que de outra forma não saberiam, e fazendo isso, estaremos correndo o risco de nos ferir. Nossos sentimentos, nossas preocupações e pensamentos mais íntimos, nossas lembranças sobre rompimentos ou erros do passado. Quanto mais nos abrirmos, mais vulneráveis estaremos. Mas ao fazer isso, passamos uma mensagem clara ao nosso amigo: “Eu confio à você essa informação sobre mim. Eu confio que você não vai me machucar.” Agora, isso não quer dizer que podemos nos mostrar vulneráveis para qualquer pessoa. Escolha sabiamente quem pode ouvir suas histórias, mas saiba que se nunca confiar a alguém coisas sobre a sua vida, poderá nunca cultivar uma amizade genuína. Sim, você corre o risco de se machucar, mas a alternativa seria nunca confiar ou depender de ninguém, e esse é um sentimento que nos isola e que prejudica nossa sua saúde física e mental.
Sua disposição para confiar e se mostrar vulnerável incentivará seus amigos a fazerem o mesmo. Compartilhando a vida com nossos amigos, obtemos sua confiança. Se você tem dificuldade em se conectar e fazer amizades realmente profundas, confiança e vulnerabilidade são excelentes tópicos para você refletir. Quanto nos permitimos abrir para os nossos amigos? Quanto de nós e de nossa vida estamos dispostos a compartilhar? Quanto os nossos amigos compartilham conosco? Se a resposta a essas perguntas for “não muito”, talvez seja hora de começarmos pouco a pouco a compartilhar mais coisas sobre a nossa vida.
A reciprocidade é fundamental para um relacionamento saudável, é quando você compartilha sua vida com um amigo e ele fazer o mesmo com você. Você investe seu tempo e energia no outro, seja tomando um café ou aparecendo para um evento que você sabe que é importante para ele, e ele faz o mesmo com você. Em um relacionamento onde há reciprocidade, nós compartilhamos a felicidade e o sofrimento. Resumindo, a reciprocidade é o dar e receber de um relacionamento saudável. Às vezes somos quem dá e às vezes quem recebe.
Vamos refletir por um momento. Você tem relacionamentos em que está sempre se doando, mas nunca recebendo? Você acha que quando você é o único que investe tempo e energia ouvindo os problemas, preocupações e realizações do outro, esse relacionamento está equilibrado? E se você é sempre o que recebe, você acha que está sendo um bom amigo? Tanto o primeiro caso quanto o segundo, indicam um relacionamento em desequilíbrio. E isso faz com que nós, ou o nosso amigo, nos sintamos sozinhos e isolados. Você gosta de se sentir assim? Gosta de fazer seu amigo se sentir assim? Então como mudar isso?
O fato é que não dá para escolher a família, mas dá para escolher os amigos. Às vezes, somos mais próximos de um amigo do que da nossa família. Esse amigo é muito mais do que alguém com quem passamos o tempo. Ele ou ela é aquela pessoa que sabe que pode contar conosco, a quem vamos ouvir e aconselhar, ou apenas sentar do lado para ela saber que não está sozinha. Nós vamos comemorar suas realizações e compartilhar de sua felicidade. E ela também estará lá quando precisarmos. Se você acha difícil se conectar com os outros, ou mesmo com seus amigos, talvez seja a hora de refletir sobre a natureza de seus relacionamentos. Seus relacionamentos são equilibrados? Quando foi a última vez que você mostrou a um amigo que ele podia contar com você? E quando foi a última vez que ele mostrou que você podia contar com ele? Será que você trivializa seus amigos? Meditar sobre a gratidão pode ser uma excelente prática nesse caso. Quando foi a última vez que você parou para pensar em com tem sorte por ter um amigo? Quando foi a última vez que você disse ao seu amigo o quanto ele é importante para você?
Meditações sobre compaixão também podem lhe ajudar a refletir sobre suas amizades, a ver quão compassivo você é com os outros, como você reage quando um amigo lhe procura com um problema. Você tenta sair de fininho ou fazer com que ele ignore o problema? Ou tenta conversar e entender melhor o problema? Você procura escutá-lo e apoiá-lo? Você tenta perceber do que ele está precisando, para poder ajudá-lo melhor? Se não, praticar compaixão e compreensão pode seu uma ótima maneira de melhorar sua relações de amizades.
Qualquer que seja seu relacionamento com seus amigos, você sempre pode melhorar, basta estar aberto e disposto a tentar. Precisamos aprender a analisar nossos relacionamentos sem nos julgar ou julgar nossos amigos. E o mais importante: precisamos estar dispostos a expor nossos sentimentos. Só assim podermos trabalhar com nosso amigo para melhorar o relacionamento.
Nós adoraríamos saber o que você pensa sobre a relação de amizade. Que qualidades você acha que um bom amigo deve ter? O que você acha que poderia fazer para ser um amigo melhor?