Proteger seus limites, sejam eles físicos ou emocionais, é fundamental para a manutenção da saúde mental. Ao definir esses seus limites e comunicá-los aos outros, você protege seu corpo e mente para que não sejam desrespeitados e lesados.
Neste artigo, vamos mostrar três maneiras de você estabelecer seus limites pessoais e proteger-se no dia a dia.
Uma das primeiras coisas que precisamos fazer para estabelecer e comunicar nossos limites é saber quais são eles. Para isso, precisamos todos os dias estabelecer a intenção de tomarmos consciência daquilo que nos perturba, nos deixa com raiva e nos desrespeita. Todos nós conhecemos a sensação de quando alguém, do nada, faz alguma coisa que desperta irritação, raiva ou frustração na gente.
Às vezes, essas coisas estão na lista das ofensas universalmente aceitas, mas às vezes não. Mentir, roubar, xingar ou insultar a aparência física ou inteligência de alguém são comportamentos que a maioria das pessoas considera ofensivos. Nesses casos, é fácil perceber essas ações como transgressões aos nossos limites.
Mas em outros casos, podemos nos ofender por conta de algo que é muito pessoal. Um de meus mentores costumava chamar isso de “gancho”. Ela explicou que todos nós temos ganchos que adquirimos durante nossa experiência de vida. Um exemplo de um gancho pessoal é ficar ansioso quando alguém levanta a voz para você, e tudo isso porque quando era mais novo seus pais gritavam constantemente com você. Então quando alguém faz isso, você é imediatamente levado de volta à situação de ser repreendido e sentir-se oprimido. Ou pior, se você sofreu violência física quando criança, pode ser muito sensível até ao mais inocente contato físico. Aquela batidinha nas costas ou toque em seu braço dado pelo chefe é um gatilho que lhe remete ao terrível infortúnio que passou quando criança.
Tire um momento para pensar nos seus ganchos pessoais. Que tipo de atitude ou situação dispara emoções em você por conta de uma experiência passada?
Agora pense em como você reage quando alguém esbarra no seu gancho. Como você se sente? Como você costuma reagir?
Talvez a parte mais importante de estabelecer limites é estar consciente deles, e isso nós podemos fazer com a prática da meditação e prestando atenção durante o dia àquilo que nos perturba. Da próxima vez que alguém te irritar ou frustrar, reflita se foi intencional ou se a outra pessoa simplesmente esbarrou em um dos seus ganchos escondidos. Pode ser que ela tenha feito ou dito alguma coisa que para ela não é ofensivo, mas que para você é desconfortável.
O próximo passo, depois de tomarmos consciência de nossos limites, é comunicá-los de forma assertiva e compassiva.
Você já ouviu a frase “é você que ensina as pessoas como te tratar”? Esse é um passo importante, e talvez o mais difícil, quando o assunto é proteger os seus limites. Por que? Porque a maioria de nós sente-se desconfortável com o confronto e com a ideia de perturbar a outra pessoa.
Porém, existe uma maneira de expressar seus limites e ao mesmo tempo preservar a paz e o bem-estar no relacionamento. O problema é que a maioria de nós reprime as emoções, e então, à menor provocação, explodimos e comunicamos nossos sentimentos de uma maneira passiva agressiva ou simplesmente agressiva. Isso, em minha opinião dá à assertividade uma má reputação.
Certa vez, meu mentor me disse: “Diga aquilo que você pensa, pense aquilo que você diz e não seja malvado”. Esse foi um grande momento para mim.
Ao dizer aos outros as coisas que eu considerei violações aos meus limites pessoais, eu praticamente dei às pessoas um mapa sobre como interagir comigo. É como se você estivesse entregando um guia de viagem, edição “Você”.
À princípio foi muito difícil ter essas conversas, mas com o tempo eu vi como meu colegas e amigos ficavam gratos por saber essas coisas a meu respeito. Assim, quando alguém ultrapassava um limite, foi ficando mais fácil falar sobre as experiências que fizeram com que aquilo que eles disseram ou fizeram fossem temas dolorosos para mim. E isso também os encorajou a compartilhar certos aspectos da vida deles que eu ignorava. Por exemplo, uma colega que eu sempre chamava de “gracinha” (porque ela era), me disse que para ela a palavra “gracinha” tinha um sentido depreciativo, uma vez que era usada para crianças que são ingênuas. Eu não podia imaginar! Então imediatamente parei de chamá-la de gracinha. Esse, claro, é um exemplo muito simples, mas que demonstra como as coisas que dizemos podem incomodar os outros. Também nos mostra e reforça a noção de que a maioria das pessoas têm boas intenções, mas simplesmente não têm informações suficientes sobre as preferências dos outros, de modo que acabam esbarrando nos seus ganchos.
Uma das melhores maneiras de se ajudar nessa jornada rumo à auto-consciência e o estabelecimento de limites é buscar feedback de pessoas que o conhecem bem. Faça uma lista de amigos, colegas e familiares que você confia para falar sobre seus gatilhos, ganchos e limites. É bom também que sejam pessoas cujo comportamento e atitude em situações de tensão e conflito você admira. Quando certas situações surgirem e você não estiver certo sobre como comunicar com gentileza seus limites e sentimentos, pergunte a elas como elas lidariam com isso. Após praticar por um tempo, você começará a intuitivamente saber como elas abordariam certas situações e aplicar esses mesmos hábitos às suas ações.
Nós adoraríamos saber como você estabelece limites pessoais saudáveis; o que funcionou e o que não funcionou para você? Quais são aqueles seus ganchos que você consegue falar para aos outros?
Tradutor: Flavia Totoli