Mesmo sem perceber, muitos de nós somos vítimas do perfeccionismo. Algumas pessoas se sentem orgulhosas, analisando meticulosamente suas atividades e querendo ser perfeitos. Outros se sentem paralisados pela necessidade de parecer perfeitos, ficam ansiosos pensando sobre como serão vistos pela sociedade, o que pensam do seu trabalho, do seu potencial e desempenho. Não importa como encaramos o perfeccionismo, a questão que importa de verdade é: a sua necessidade de perfeccionismo é alimentada pelo medo de ser rejeitado ou não se sentir merecedor de alguma coisa?
Essa é uma frase do Dr. David D. Burnsh, que sublinha as ideias que vamos discutir neste artigo. Para nós que somos viciados no perfeccionismo, a ideia de ser meticuloso, produtivo, eficiente, habilidosos, preparados e bem sucedidos traz uma sensação muito boa. Imaginamos um super-humano que faz tudo muito bem, é amado e elogiado por suas capacidades, performance e iniciativa… o que há de mal em ser assim? Bom, é claro que todas essas características são positivas, mas o problema não está em fazer tudo isso, o problema é quando não damos conta de fazer ou ser todas essas coisas ao mesmo tempo. Somos duros, criticamos a nós mesmos, e gastamos uma energia enorme nos preocupando com o que os outros vão pensar de nós
Esse sentimento de não ser o bastante, de que estamos falhando, que somos uma decepção e que não estamos dando o nosso melhor, acaba fazendo com que não aproveitemos o momento presente e que não cultivemos uma relação saudável com nós mesmos.
Ser perfeccionista é tentar fazer tudo que precisamos fazer com perfeição. Essa abordagem não deixa espaço para erros e desvaloriza automaticamente tudo que criamos, caso exista qualquer falha, por menor que seja. Lendo isso, muitos de nós concordaria que não é razoável ou realista querer perfeição o tempo todo, mas no dia a dia, pode ser difícil resistir a crítica interna. Especialmente num mundo de filtros, fotos posadas e photoshop, queremos mostrar sempre nosso melhor lado. Passamos cada vez mais tempo pensando no que os outros vão pensar de nós, o que só nos leva cada vez mais a querer atingir a perfeição. Fica cada vez mais desconfortável falar sobre nossas falhas, imperfeições e dificuldades, porque estamos mais preocupados com o que os outros vão pensar ou dizer, se soubessem certas coisas sobre nós. Temos medo de ser rejeitados.
Precisamos admitir para nós mesmos que somos programados para procurar amor, aceitação e conexão. Queremos relações genuínas e que os outros nos aceitem. Crescemos e fomos criados numa cultura que nos empurra para procurar a perfeição. Pense na sua infância. Se as pessoas não estavam nos dizendo para tirar notas mais altas, ir melhor nos esportes, ou nos aplicarmos em todas as atividades, elas estavam nos dando bronca por que não fomos melhores. Muitos acabaram crescendo com a noção de que ser que sem é, não é suficiente para conseguir ser amado, que precisamos ser mais, sempre atrás da perfeição.
Em 2002, o Dr. Gordon H. Flett e Dr. Paul L. Hewitt estabeleceram três tipos de perfeccionismo:
1- Perfeccionismo do Eu: Estabelecer expectativas impossíveis de serem cumpridas.
2- Perfeccionismo direcionado ao Outro: Criar expectativas impossíveis para o outro e consequentemente se recusar a lhes dar mais responsabilidade, tomando-as para si ou arruinar uma relação por causa de desconforto mútuo.
3- Perfeccionismo Social: Acreditar que certos padrões impossíveis de serem atingidos, mas tentando alcançá-las mesmo assim.
O perfeccionismo social provavelmente é o que tem maior impacto em nossas vidas. De acordo com um estudo feito nos EUA, depois de 1989, as expectativas sociais de perfeição colocados nos ombros das gerações mais jovens ficaram maiores. Como resultado, essa geração começou a ser alvo de críticas mais duras que as passadas, e começaram a tentar atingir padrões impossíveis, para provarem seu valor
A dinâmica de competição que isso criou, priorizou a opinião do grupo ao invés da pessoal. Esses dois fatores alimentam a crença que “precisamos dar duro para sermos amados” e que precisamos ser cada vez mais perfeitos, não importa o quanto isso possa ser prejudicial e cansativo.
Esse tipo de comportamento e pensamento, que começa a tomar forma durante a infância e fica mais forte durante a adolescência, invade também a vida adulta. Pense em todas as vezes, na última semana, que você sentiu que não estava fazendo algo bem o suficiente, que você imaginou o que os outros estavam pensando sobre o seu trabalho ou sobre a sua vida, ou que você tentou obsessivamente ser mais perfeito.
Pergunte a si mesmo: como você falaria com um amigo que estivesse passando pela mesma coisa, tendo os mesmos pensamentos, ou se criticando como você faz consigo mesmo? Provavelmente usaria palavras mais suaves, diria que não é bom ficar obcecado com essas coisas. Que todo mundo comete erros e ninguém consegue ser perfeito em tudo. Então porque não usar as mesmas falas consigo mesmo?
É impossível para qualquer ser, situação ou indivíduo ser perfeito. Alguém ou alguma coisa pode parecer perfeitos quando olhados de fora, mas tudo tem pontos positivos e negativos. Todos mundo é único e isso pode não fazer de nós, seres perfeitos, mas significa que somos especiais do nosso jeito. Significa que existimos.
Se olharmos o perfeccionismo do ponto de vista científico, entendemos melhor que nada pode ser perfeito. Alguém pode dizer que o Sistema Solar que vivemos é perfeito, mas de verdade, não é. Enquanto o universo tem 9 bilhões de anos, nossos sistema solar tem só 4,5 milhões de anos. O sol passou por fases de violência incrível e caos, e, por mais que possa parecer relativamente calmo, um dia ele irá desaparecer. Podemos falar em perfeição em um mundo que está em constante mutação? Um mundo onde a energia se movimenta constantemente, se transforma e está em busca de equilíbrio? Saber que fazemos parte desse fluxo de altos e baixos, poderia nos acalmar? Podemos nos lembrar que estamos tentando nosso melhor e que quando erramos, estamos crescendo e evoluindo?
Qual foi a última coisa que você adiou algo porque queria que fosse perfeito? Qual projeto você não começou porque não se sentiu pronto, ou bom o suficiente para executar? Esperar por perfeição, gera procrastinação, descontentamento, confusão e medo. Esperar a perfeição para começar um negócio, ou que suas finanças estejam perfeitas para ter filhos, esperar para usar aquele biquíni quando estiver com o corpo perfeito… esperar pela perfeição nos rouba de aproveitar o momento presente e as fontes de felicidade e crescimento.
Então, ao invés de correr atrás de uma perfeição que não existe de verdade, porque não procurar as possibilidade que existem hoje?
Nós aqui do Meditopia – auto-proclamados perfeccionistas – adoraríamos saber como a sua tendência ao perfeccionismo te impede de experimentar novas coisas e atividades.
O que é que você gostaria de dizer a si mesmo quando sente que cometeu um erro, não deu o seu melhor, ou não conseguiu o que queria? Vamos dividir uns com os outros afirmações positivas, sermos mais gentis e pacientes com os outros e com nós mesmos.
Tradutor: Flavia Totoli
Muito bom! Quantas coisas deixei de fazer por sempre achar que o momento não é bom, a roupa não esta boa, minha cara não esta boa… enfim… tenho pensado muito em quantas vezes me boicotei por causa do perfeccionismo.